quarta-feira, 14 de abril de 2010

Massive Attack - 100th Window


Ok, se você leu o post que falava sobre Portishead viu o nome dessa banda por lá. Na verdade, se você nasceu na ou ouviu alguma coisa da década de 90, já teve ter ouvido, ainda que sem saber, alguma música dessa banda. Sim, os fundadores do Trip-Hop que, com o álbum Blue Lines, trouxeram vida "nova" à cena musical, uma alternativa ao grunge que dominava o começo da década passada. Ainda que hoje algumas pessoas já profetizem que eles serão conhecidos no futuro apenas por ser a banda da música de abertura do seriado House (sim, aquela músiquinha legal é deles, e o nome da música é Teardrop).

Nascido em Bristol, celeiro trip-hopiano mundial (Portishead e Tricky também vieram da mesma região. Este último, aliás, já fez parte do Massive), o Massive Attack vêm desde 1991 apresentando uma qualidade invejável em seus discos (a despeito de algumas opiniões contrárias). Ainda que EU não considere o melhor, o disco Mezzanine é, sem dúvida, o mais famoso dele. Porém, do Blue Lines (o primeiro, de 1991) ao Heligoland (o último, de 2010), eles conseguem atestar uma identidade própria, ainda que repetitiva em alguns momentos. A banda é formada por "3D" (Robert Del Naja) e "Daddy G" (Grant Marshall), mas é conhecida pelas participações especiais em seus álbuns. Damon Albarn, vocalista do Blur e do Gorillaz, é uma das figurinhas carimbadas.

Se a banda é unanimidade mundial, esse disco que escolhi é a discórdia entre fãs e críticos. Alguns alegam que esse disco é simplesmente um disco solo do 3D, outros dizem que em 100th Window, o Massive se perdeu em sua própria história, vivendo de covers de si mesmo. Estranhamente, o mesmo disco é aquele que entrou no top 10 britânico assim que foi lançado e que conseguiu chegar em primeiro lugar no mesmo (talvez uma música chamada Prayer for England tenha ajudado XD). Eu considero, ainda que "bastante" diferente dos álbuns anteriores, um ótimo disco.

Future Proof, primeira música do álbum, nos apresenta uma atmosfera de "psicodelia de ciberespaço". Deixa eu explicar: não é uma viagem típica da psicodelia dos 60/70, e sim algo novo, uma ciber-trip, um vôo em um mundo de luzes e alucinações virtuais. Vozes confundem-se com bips e beats em uma legião internética. É como se eles quisessem dar-nos boas vindas ao mundo do século XXI, tão louco quanto o do passado, mas cujas loucuras abraçam as novas criações humanas.

Confesso que sou suspeito pra falar da segunda música desse disco. What Your Soul Sings, trabalhada na belíssima voz da Sinéad O'Connor, tem aquele tom confessional, algo entre um sussuro e um beijo, algo que embala enquanto tenta confortar. Ainda que a batida eletrônica afaste um pouco do calor humano, Sinéad e a letra da música mostram o que só um ser humano poderia fazer. Essa música é uma ode às coisas boas da vida, ao amor próprio e à felicidade. "Então faça sua escolha pela alegria / A alegria te pertence", e você começa a acreditar que realmente todo ser abaixo dos céus tem o direito de ser feliz. E a receita pra essa felicidade vem da própria música: "Abra sua boca e diga /  Diga o que sua alma canta para você".

Everywhen, terceira música do disco, me lembra muito Teardrop (do disco Mezzanine), acima citada. Ela começa pequena e aos poucos vai crescendo. Frases soltas e arrastadas se misturam a batidas leves numa agradável mistura, ainda que sem o brilho das demais músicas. Aliás, minto. O brilho está justamente na simplicidade, na calma que essa música nos trás. Já Special Cases, a próxima música, tem uma atmosfera opressora, sem você precisar ver a letra. Letra esta que, por sinal, só aumenta a opressão. Paradoxalmente, é uma letra de liberdade feminina, onde a Sinéad nos mostra que "Há tantos homens bons / Pergunte a si mesma se ele é um deles." Acho que o clima de opressão deve servir pra nos mostrar como uma mulher se sente enquanto pensa abandonar ou não seu companheiro. Como uma amiga sensata, Special Cases dá conselhos sensatos.

Butterfly Caught é uma das minhas preferidas do disco. Ela é estranha, começa de baixo, sons indistinguíveis, início de filme de terror. Um lamúrio, um coro de lamúrios, aquele nervosismo que começa devagar e vai crescendo. As batidas entram e sistematizam o nervosismo, cadenciam a esquisitice. Luzes e sombras alternam-se, sombras de monges , luzes fracas que ameaçam se apagar. Ou talvez um laboratório, o metal frio ao redor de tudo, os ecos por entre os corredores vazios. Essa definitivamente é uma música gostosamente sombria. Talvez minha visão dela esteja corrompida pelo belíssimo clip da mesma:


Massive Attack - Butterfly Caught
Enviado por hushhush112. - Veja mais vídeos de musica, em HD!


Prayer for England é, como o nome já diz, uma oração. "Faça com que outra criança não seja morta / Não deixe que outra busca feita em vão". É uma música extremamente bonita. A voz da Sinéad, já tinha se mostrado confessional em What Your Soul Sings e sarcástica em Special Cases, se mostra agora séria, comedida, realmente proferindo uma prece ao Espírito Santo ou pedindo perdão a Jah. Parece ter sido uma oração às crianças da Inglaterra, mas é um cântico que ressoa pelos continentes.

Smalltime Shot Away sempre me dá a sensação de um homem falando com um espelho, ou aqueles clipes em que passam a vida de uma pessoa normal, com filhos ao colégio, trânsito e um final com um abraço da/do companheira/o em uma cama com uma fotografia azul. Talvez eu esteja meio louco, mas até a letra me faz pensar isso: "We never leave each other 'cause we leave each other so cold (nós nunca vamos deixar um ao outro, por que nos deixaria tão frios). Name Taken continua no clima íntimo iniciado em Smalltime Shot Away. Frases arrastadas como em Everywhen, algo como um lamento às vezes, como um homem velho que olha a tarde passar de uma janela, e o calor deixa tudo mais lento.

Antistar fecha o disco. Algo que parece uma cítara grave se apresenta constante, dando um compasso indiano . Ervas aromáticas, incenso, talvez algumas dançarinas em um Taj Mahal nas nuvens. Como um oásis, tudo não passe de miragem. É uma música que se torna essencialmente instrumental do meio pro fim, e termina diminuindo a intensidade, até por voltar o ouvinte à sua confortável poltrona. Se ouvido o disco com atenção, alguns minutos ainda serão precisos para voltar totalmente à Terra.


Artista: Massive Attack
Álbum: 100th Window
Ano: 2003
Nacionalidade: UK
Gravadora: Virgin Records
Tracklist:

01 - Future Proof
02 - What Your Soul Sings
03 - Everywhen
04 - Special Cases
05 - Butterfly Caught
06 - A Prayer for England
07 - Small Time Shot Away
08 - Name Taken
09 - Antistar

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