sábado, 16 de julho de 2011

Protest the Hero - Scurrilous

Bom, essa é a primeira "resenha" que eu faço de um disco mais pesado, portanto, perdoem as falhas já tidas como certas....

Conheci essas crianças há algum tempo, por conta do também ótimo disco Kezia, de 2005, e os meninos vêm melhorando a cada disco. A banda é canadense, surgiu em 99, mas os dois primeiros trabalhos são bem fraquinhos (pronto, falei!). A partir do Kezia as coisas começam a mudar e eles vêm evoluindo a olhos vistos, sendo esse Scurrilous o último trabalho dos "muleque". A banda é formada por Tim Millar na guitarra "base", Rody Walker nos vocais, Arif Mirabdolbaghi nos baixos, Moe Carlson na batera e Luke Hoskin na guitarra "solo" (da esquerda para a direita nesta foto abaixo).

Tô dizendo que essas pragas eram muleques quando gravaram o Kezia...

Esse disco foi lançado em 2011, e mostra um amadurecimento muito maior da banda. Os vocais são limpos, sem os guturais e rasgados do Fortress, e o instrumental é mais bonito que em Kezia. Sem dúvida, uma prova do amadurecimento deles nestes últimos 3 anos. A primeira música de trabalho é a C'est La Vie, primeira do disco, logo abaixo. O clip desta música mostra igualmente como a banda está mais madura, com assuntos mais sérios e sombrios (só ver o clip de Limb for Limb, do disco Fortress, pra entender a diferença). Os momentos sem vocais são preenchidos com guitarras muito bem trabalhadas e no local certo, sem querer uma atropelar a outra.

A bolacha começa com C'est la Vie (calma, a música não é em francês, mas até q eles podiam, já que são canadenses, sei lá), e já começa com um som bastante pesado e veloz. As paradinhas típicas do metalcore estão aqui presentes, mas não são quebradas com lá. O belo vocal do Rody aparece ao melhor estilo heavy metal nessa música, ele usa e abusa dos falsetes, com belas passagens com voz limpa. Claro que ela não fica o tempo todo a 170km/h, e os momentos mais lentos são muito belos também. Segue clip, logo abaixo:




A próxima, Hair Trigger, é uma música muito legalzinha. Ela começa com umas guitarrinhas progs, cai pra uma coisa mais speed, mas nunca mantêm o ritmo por muito tempo, ao contrário da C'est la Vie. Ela sempre tem umas caídas, sempre com uma guitarra fazendo uma escala pra cá, uma coisinha pra lá. Aliás, a letra me lembra uma história de amor, algo do tipo. Claro que do jeito meio bizarro deles ( 'Till I can breathe her / 'Till I can leave her). Ah, sim! É nessa música que a bela voz da Jadea Kelly aparece pela primeira vez nesse disco (ela participou do Kezia, e não lembro se do Fortress, segundo trabalho dos caras, tb). É muito bonitinho quando ela entra cantando "What about those rainy nights in London", e o finalzinho em que eles ficam apenas repetindo a palavra "cold" com um baixo lançando slaps violentos ao fundo mostra como a banda que era rotulada de metalcore soube crescer e absorver novos elementos ao seu som.


Tandem
Tandem é uma música estranha. À primeira vista ela me pareceu uma música de revolta, mas refletindo mais profundamente sobre ela, acho que ela é mais uma música sobre boas pessoas, sobre amizades e ajuda ao próximo, sobre como podemos ter nossos problemas e demônios, mas podemos seguir sendo "bons", ajudar quem precisa e ser a pessoa que vai atrás nas tandens da vida, equilibrando e dando força a quem precisa. Curto as diferentes formas que o Rody repete certas frases, mas de formas diferentes. E o final sempre me deixa arrepiado...

Moonlight deve ter sido feita em um quarto de hotel à beira de estrada, ou em vários hotéis de beira de estrada. Um provável clip dela poderia ser gravado todo dentro de um quarto e, pensando bem, é uma musiquinha bem comercial. Ou seria, se não fosse bem Protest the Hero. Uns solinhos, umas caidinhas q não são do gosto do mainstream. Perto do finalzinho, um contratempo bem interessante, guitarras escalando, é uma música feita pra ser chiclete.

Tapestry é a música mais ácida do disco. O vocal é quase todo rasgado, antes do fim do primeiro minuto há uns vocalizes bem interessantes seguindo a bateria, coisa semelhante ao feito em Bloodmeat, do segundo cd dos caras. Um solinho de guitarra acompanhado de um teclado ao fundo, mais escalas, tudo se encaixando muito bem.

Aqui cabe uma explicação: a maior música do disco é Tandem, de 5:15. Apesar das influências progs, eles não se perdem em solos intermináveis ou notas tão lentas que dá vontade de dormir. As escalas são constantes em todas as músicas (lógico, duas guitarras servem pra isso), mas não é algo que atropele o vocal, nem cubra o espaço para que a bateria ou o baixo tenham seu brilho. 

Aliás, é por este ponto que eu considero esse disco uma evolução sobre os outros dois. Enquanto no Kezia eles estão experimentando eles mesmos, vendo do que são feitos, mas ainda dentro de um estilo mais genérico, e em Fortress eles experimentam seu som, vendo até que ponto eles podem inovar, em Scurrilous, temos uma banda que define muito bem o que quer fazer, e faz com uma competência muito grande. Não temos a sensação de que uma escala foi colocada pra experimentar como ficaria, temos a impressão de que foi tudo bem pensado desde o começo.

Dunsel fala sobre amadurecimento, sobre ir corrompendo-se, perdendo certas coisas e mantendo outras durante a vida. Quebra totalmente a acidez da Tapestry, é uma música que não tem tantas variações, tirando o final. The Reign Of Unending Terror mantêm a acelerada que o final de Dunsel dá, mas a partir desse momento o disco começa a mostrar-se um mais do mesmo. Felizmente o disco todo tem aproximadamente 44 minutos, o que impede que o ouvinte se canse.


Termites, popularmente conhecidos como CUPINS!!!



Termites dá uma acordada pra quem tava se perdendo no ritmo do disco. As variações de ritmo que ela têm dão novo ar ao disco como um todo, diferente das duas últimas. Os vocais em coro ajudam e anima a cantar junto, é uma música no local certo dentro do disco. Depois de descobrir o significado do nome dessa música, imagino ela sendo tocada numa casa de madeira, sendo comida por cupins, à beira de um precipício. Tongue-Splitter é uma música neurótica, um lunático verborragiando num ponto de ônibus enquanto tem tiques nervosos, piscando o olho e virando o pescoço rapidamente, igual o Brad Pitt, na pele do Jeffrey Goines, o lunático do filme Os 12 Macacos.

Sex Tapes fecha o disco muito bem. Após se recuperar da monotonia que Dunsel e The Reign of Unending Terror, o disco segue com a mesma qualidade do começo, com os vocais de Rody ajudado por mais alguém que não consegui definir quem (acho que é a voz do Tim Millar, não sei mesmo). Mudanças de ritmos diferentes das outras músicas, instrumentos bem limpos e um finalzinho só com a banda em fade out dão ao Scurrilous um fim merecido, e uma vontade de ouvir de novo, imaginando onde esses caras vão parar.

Se depender da qualidade musical deles, eles vão muito mais longe do que já foram....

Artista: Protest the Hero
Álbum: Scurrilous
Ano: 2011
Nacionalidade: Canadá
Gravadora: Vagrant Records
Tracklist:
01 - C'est La Vie
02 - Hair-Trigger
03 - Tandem
04 - Moonlight
05 - Tapestry
06 - Dunsel
07 - The Reign Of Unending Terror
08 - Termites
09 - Tongue -Splitter
10 - Sex Tapes


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terça-feira, 8 de março de 2011

Giant Squid - The Ichthyologist

Ok, confesso que perdi muito tempo da pesquisa pra esse post só vendo vídeos de lulas gigantes - giant squids, em inglês. Mas passada a natural euforia masculina em ver monstros gigantes destruindo coisas, cheguei à banda...

Eis a Giant Squid...



.. quer dizer, essa é a Giant Squid!


A banda surgiu em 2002, na cidade de Sacramento, Califórnia. É formada por Aaron Gregory nos vocais e guitarra, Bryan Beeson no baixo, Jackie Perez Gratz no cello e nos vocais e o Scott Sutton na batera. Pessoal diz que é banda de post-rock, aqui chegam a chamar de doom. Não sei, e esse "não sei " nasce justamente pela dificuldade em definir uma banda como essa. O The Ichthyologist (O Ictiólogo, em pt-br. Ictiologia é o estudo dos peixes. Com peixes e lulas gigantes, o estúdio de gravação deve ser um aquário) é a terceira gravação do grupo, precedido pelo EP Monster in the Creek e pelo álbum Metridium Fields, e é o que eu mais gosto da banda.

A bolacha começa com a Panthalassa, cujo nome me remete à Índia. O começo dela pode até mesmo acompanhar o nome da música, talvez mostrando paragens indianas ou árabes, com a guitarra e o cello (??) acompanhando essa introdução das 1001 noites.Calma, como um peixe que se camufla, essa música mostra sua verdadeira face. Guitarras sujas, bateria com ataques constantes nos pratos, seguidos de uma marchinha e uma voz rouca e profética mostram pra que a banda veio. À mente, um desfile a lá 4 de julho numa cidade do velho oeste americano, com a banda tocando num palanque ou carro alegórico, arbustos rolando e poeira voando. Os metais do meio da música ajudam a ter essa visão. A propósito, adoro os vocais dessa música, especialmente os berros. Não que sejam belos ou difíceis, mas passam muito sentimento. Impagável o vocal da Jackie também no final da música, talvez uma cantora de cabaré soltando agudos no meio duma briga de bar...

Ps.: Descobri que Panthalassa é o nome do antigo oceano que cercava o super-continente pangéia, que era a reunião de todos os continentes, há 200 milhões de anos atrás. Ou seja, o oceano primordial, início dos demais oceanos... e do disco!

A esse ponto já seria bom um esclarecimento sobre esse disco: todas as músicas são grandes (a menor tem 4:17), portanto, mudanças de atmosfera são extremamente comuns...

La Brea Tar Pits, segunda música do álbum, é como um último dia de um condenado à morte. Não sei ao certo se a condenação é física ou se a morte será mental, alguém que vai afundando em sua loucura até morrer dentro de si mesmo. A voz é lamuriosa, o ritmo arrastado. Um condenado na cadeira da inquisição enquanto soldados marcham ao seu redor, tudo em preto em branco, luminárias balançam deixando tudo incerto e sombrio. Pastores ou padres andam de um lado para outro, enquanto o condenado apenas observa aquele espetáculo preparado só para ele. Nas partes mais lentas e sussurradas, é o próprio condenado quem sussurra, numa close de seu rosto não barbeado, suas últimas palavras. Quando os instrumentos tomam a cena, palavras não são necessárias, são os preparativos para a execução. Apenas um lamento insistente se faz presente. Ao final de tudo, o vento arrasta poeira, lamentos e talvez espíritos, enquanto o que parece uma cítara fecha no cinza do céu...

Sutterville é um cabaré nos anos 20. Piano e bebidas dividem o ar viciado de fumaça de cigarrro com cintas-liga e conspirações. A cantora anda com seu salto-alto por entre os presentes, sobe no palco, debruça-se sobre o piano. Sua voz, sexy e intimista na maior parte do tempo, mostra sinais de lamentos às vezes, talvez por ela mesma, talvez por todos os presentes. É uma música muito gostosa de se ouvir, apesar de não ser nenhum blues perfeito, dá pra quase sentir a pluma do vestido da cantora roçando nossa pele ou o a fumaça do cigarro impregnando nossas roupas.

Ok, confesso que minha visão sobre a próxima música, Dead Man Slough, é bastante estranha. Ela começa com vocais bem roucos, um vocal feminino bem suave, depois berros sofridos e profundos. Imagino um pistoleiro com cigarro na boca, andando por uma sala empoeirada, ao redor de uma cadeira onde está uma mulher amarrada, seu antigo amor. É como se fosse um diálogo onde ele conta a ela tudo o que sentiu por ela e como ela pisou no amor dele, enquanto ela tenta se desculpar. O final é como se fosse ele se justificando por tudo o que ia fazer com ela. Para aqueles que têm o estômago mais fraco, talvez um diálogo imaginado na cabeça de dois ex-amantes que se cruzam na rua, apenas pensamentos e faces.

Throwing a Donner Party at Sea poderia ser confundida com qualquer música do Queens of the Stone Age, com a exceção do cello sempre presente. Até mesmo o baixo, as paradas, viradas da bateria, tudo faz lembrar Queens (o que pra mim é uma coisa positiva). Claro que o vocal da banda deixa claro a marca do Giant Squid. O clip de In Bloomm vêm à cabeça quando ouço essa música, um provável clip dela poderia ser feito parecido com o famoso clip do Nirvana: takes com a banda comportada alternando com momentos de destruição de cenário e instrumento, ou até mesmo a banda tocando pedaços daquilo que eram instrumentos.

Sevengill começa com sons de navios, parecido com Wanderlust, da Bjork. Estranho, pq até agora havia associado a banda sempre a climas secos, áridos (talvez influência da foto do começo do post). Sevengill pode ser considerada uma baladinha, ritmo lento, voz rouca, cello acompanhando a tristeza. "My heart is crushed by the jaws of regret" (meu coração é esmagado pelas garras do arrependimento), como é gritado no meio da música, define bem ela como um todo...

Mormon Island é o tipo de música que eu gosto: sombria, algo como um Sigur Rós depressivo. O vocal é etéreo, algo como uma alucinação, enquanto o som faz você viajar num sonho ou um delírio causado pelo calor excessivo do verão. Flashs passam pelos olhos, o que podem ser imagens da infância sendo resgatadas ou a cortina da sala onde você está semi-desmaiado. Ao final, você se dá conta que as imagens formam algo peculiar, algo que você gosta muito e que faz sentir-se em casa. Talvez algum avô distante tocando banjo numa fazenda do interior dos Estados Unidos ou alguém chegando para te levantar do chão onde você está febril.

Blue Linckia (uma estrela do mar de cor azulada bem forte) me parece ser uma música de reabilitação. Como uma estrela do mar, o grupo canta "If you were to sever my arm I would grow one more" (se você fosse cortar meu braço eu iria crescer um novamente), mostrando que a despeito da vida, a vida continua, the show must go on (Queen). Ou o finalzinho de V de Vingança, onde V, depois de levar vários tiros, ainda se arrasta para quebrar o pescoço de seu inimigo. Mas diferente do V, essa música trata mais sobre reabilitação do que sobre vingança, pois não irei crescer meu braço novamente pra arrancar os seus, e sim pq faz parte de mim querer seguir, querer e poder me curar.

Olha que linda a Emerald Bay!

Emerald Bay, penúltima música do disco, talvez tenha sido composta pensando justamente nessa vista paradisíaca acima, quem sabe? Ao menos comigo, praias e mar estão mais associados à melancolia, contemplação, aquela sensação de ser grande como o próprio oceano. Essa música também me faz pensar assim, o ritmo seguindo o embalo das ondas, o sol no juízo deixando tudo mais lento e embaçado...




Rubicon Wall é a minha favorita do disco. Tanto que guardei o vídeo pra ela, apesar dela não ter nenhum clip, acima é apenas ela tocando com uma foto do disco. Essa é uma maldita música que sempre me arrepia quando ouço. Ela começa semelhante a uma confissão, talvez um pedido de desculpas. Raiva, tristezas e decepções vão se juntando a um medo sobre o futuro, sobre o incerto. Talvez uma conversa franca à beira da morte, violinos fúnebres, enterro no mar. Sim, as palavras do morto enquanto seus serviços funerários são feitos por alguém, enquanto o barco avança contra as ondas, levantando espumas...

O disco termina em algo parecido com uma valsa. Talvez pra mostrar que até a morte pode acabar em dança, no balanço do mar... ou de alguém deprimido que se balança procurando consolo...

Segue aqui o MySpace da banda, aqui a página no Facebook e aqui o perfil no Last.Fm.

Artista: Giant Squid

Álbum: The Ichthyologist
Ano: 2009
Nacionalidade: EUA
Gravadora: self-record/ Translation Loss Records
Tracklist:

01 - Panthalassa
02 - La Brea Tar Pits
03 - Sutterville
04 - Dead Man Slough
05 - Throwing a Donner Party at Sea
06 - Sevengill
07 - Mormon Island
08 - Blue Linckia
09 - Emerald Bay
10 - Rubicon Wall


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    segunda-feira, 17 de maio de 2010

    Bobby McFerrin - The Voice


















    Não sei como, não sei porque, em minhas procuras pela discografia do Massive Attack, acabei descobrindo esse jovem senhor de idade chamado Bobby McFerrin. Após uma pequena googleada, o que descobri me deixou extremamente encantado. Tio Bobby é americano de espírito, apesar de ter nascido no Reino Unido, filho de pais músicos. Começou no piano, mas viu que sua praia era outra. Era usar o que Deus tinha colocado na sua garganta.


    O louco McFerrin possui uma extensão vocal de apenas 8 oitavas. Portanto, seu maior talento é sua voz, coisa que ele usa como ninguém. Não tenho conhecimento se ele é o fundador, mas com certeza é um dos grandes impulsionadores do beat box. E tudo realmente começou com esse disco aqui, o The Voice.


    O The Voice é todo gravado a capella, e isso em 1984. Infelizmente, minha ignorância musical só havia colocado outro disco assim na minha vida (o também magistral Medulla, da Bjork). Então, imagino como deve ter sido foda quando, no meio dos anos oitenta, o Bobby McFerrin chega com um disco gravado apenas com sua voz. E ainda mais em um meio onde os instrumentos ditaram regra, que é o jazz.

    Não serei insano o suficiente pra fazer um comentário música por música desse disco. Ao invés disso, simplesmente aconselho que vocês ouçam ele sem preconceito. Deixo vocês com a música mais conhecida deles, pra dar uma aquecida nos ouvidos enferrujados de vocês.





    Artista: Bobby McFerrin
    Álbum: The Voice
    Ano: 1984
    Nacionalidade: EUA
    Gravadora: Elektra
    Tracklist:

    01 - Blackbird
    02 - The Jump
    03 - El Brujo
    04 - I Feel Good
    05 - I'm My Own Walkman
    06 - Music Box
    07 - Big Top/We're in the Money
    08 - I'm Alone
    09 - T.J.
    10 - A-Train

    quarta-feira, 14 de abril de 2010

    Massive Attack - 100th Window


    Ok, se você leu o post que falava sobre Portishead viu o nome dessa banda por lá. Na verdade, se você nasceu na ou ouviu alguma coisa da década de 90, já teve ter ouvido, ainda que sem saber, alguma música dessa banda. Sim, os fundadores do Trip-Hop que, com o álbum Blue Lines, trouxeram vida "nova" à cena musical, uma alternativa ao grunge que dominava o começo da década passada. Ainda que hoje algumas pessoas já profetizem que eles serão conhecidos no futuro apenas por ser a banda da música de abertura do seriado House (sim, aquela músiquinha legal é deles, e o nome da música é Teardrop).

    Nascido em Bristol, celeiro trip-hopiano mundial (Portishead e Tricky também vieram da mesma região. Este último, aliás, já fez parte do Massive), o Massive Attack vêm desde 1991 apresentando uma qualidade invejável em seus discos (a despeito de algumas opiniões contrárias). Ainda que EU não considere o melhor, o disco Mezzanine é, sem dúvida, o mais famoso dele. Porém, do Blue Lines (o primeiro, de 1991) ao Heligoland (o último, de 2010), eles conseguem atestar uma identidade própria, ainda que repetitiva em alguns momentos. A banda é formada por "3D" (Robert Del Naja) e "Daddy G" (Grant Marshall), mas é conhecida pelas participações especiais em seus álbuns. Damon Albarn, vocalista do Blur e do Gorillaz, é uma das figurinhas carimbadas.

    Se a banda é unanimidade mundial, esse disco que escolhi é a discórdia entre fãs e críticos. Alguns alegam que esse disco é simplesmente um disco solo do 3D, outros dizem que em 100th Window, o Massive se perdeu em sua própria história, vivendo de covers de si mesmo. Estranhamente, o mesmo disco é aquele que entrou no top 10 britânico assim que foi lançado e que conseguiu chegar em primeiro lugar no mesmo (talvez uma música chamada Prayer for England tenha ajudado XD). Eu considero, ainda que "bastante" diferente dos álbuns anteriores, um ótimo disco.

    Future Proof, primeira música do álbum, nos apresenta uma atmosfera de "psicodelia de ciberespaço". Deixa eu explicar: não é uma viagem típica da psicodelia dos 60/70, e sim algo novo, uma ciber-trip, um vôo em um mundo de luzes e alucinações virtuais. Vozes confundem-se com bips e beats em uma legião internética. É como se eles quisessem dar-nos boas vindas ao mundo do século XXI, tão louco quanto o do passado, mas cujas loucuras abraçam as novas criações humanas.

    Confesso que sou suspeito pra falar da segunda música desse disco. What Your Soul Sings, trabalhada na belíssima voz da Sinéad O'Connor, tem aquele tom confessional, algo entre um sussuro e um beijo, algo que embala enquanto tenta confortar. Ainda que a batida eletrônica afaste um pouco do calor humano, Sinéad e a letra da música mostram o que só um ser humano poderia fazer. Essa música é uma ode às coisas boas da vida, ao amor próprio e à felicidade. "Então faça sua escolha pela alegria / A alegria te pertence", e você começa a acreditar que realmente todo ser abaixo dos céus tem o direito de ser feliz. E a receita pra essa felicidade vem da própria música: "Abra sua boca e diga /  Diga o que sua alma canta para você".

    Everywhen, terceira música do disco, me lembra muito Teardrop (do disco Mezzanine), acima citada. Ela começa pequena e aos poucos vai crescendo. Frases soltas e arrastadas se misturam a batidas leves numa agradável mistura, ainda que sem o brilho das demais músicas. Aliás, minto. O brilho está justamente na simplicidade, na calma que essa música nos trás. Já Special Cases, a próxima música, tem uma atmosfera opressora, sem você precisar ver a letra. Letra esta que, por sinal, só aumenta a opressão. Paradoxalmente, é uma letra de liberdade feminina, onde a Sinéad nos mostra que "Há tantos homens bons / Pergunte a si mesma se ele é um deles." Acho que o clima de opressão deve servir pra nos mostrar como uma mulher se sente enquanto pensa abandonar ou não seu companheiro. Como uma amiga sensata, Special Cases dá conselhos sensatos.

    Butterfly Caught é uma das minhas preferidas do disco. Ela é estranha, começa de baixo, sons indistinguíveis, início de filme de terror. Um lamúrio, um coro de lamúrios, aquele nervosismo que começa devagar e vai crescendo. As batidas entram e sistematizam o nervosismo, cadenciam a esquisitice. Luzes e sombras alternam-se, sombras de monges , luzes fracas que ameaçam se apagar. Ou talvez um laboratório, o metal frio ao redor de tudo, os ecos por entre os corredores vazios. Essa definitivamente é uma música gostosamente sombria. Talvez minha visão dela esteja corrompida pelo belíssimo clip da mesma:


    Massive Attack - Butterfly Caught
    Enviado por hushhush112. - Veja mais vídeos de musica, em HD!


    Prayer for England é, como o nome já diz, uma oração. "Faça com que outra criança não seja morta / Não deixe que outra busca feita em vão". É uma música extremamente bonita. A voz da Sinéad, já tinha se mostrado confessional em What Your Soul Sings e sarcástica em Special Cases, se mostra agora séria, comedida, realmente proferindo uma prece ao Espírito Santo ou pedindo perdão a Jah. Parece ter sido uma oração às crianças da Inglaterra, mas é um cântico que ressoa pelos continentes.

    Smalltime Shot Away sempre me dá a sensação de um homem falando com um espelho, ou aqueles clipes em que passam a vida de uma pessoa normal, com filhos ao colégio, trânsito e um final com um abraço da/do companheira/o em uma cama com uma fotografia azul. Talvez eu esteja meio louco, mas até a letra me faz pensar isso: "We never leave each other 'cause we leave each other so cold (nós nunca vamos deixar um ao outro, por que nos deixaria tão frios). Name Taken continua no clima íntimo iniciado em Smalltime Shot Away. Frases arrastadas como em Everywhen, algo como um lamento às vezes, como um homem velho que olha a tarde passar de uma janela, e o calor deixa tudo mais lento.

    Antistar fecha o disco. Algo que parece uma cítara grave se apresenta constante, dando um compasso indiano . Ervas aromáticas, incenso, talvez algumas dançarinas em um Taj Mahal nas nuvens. Como um oásis, tudo não passe de miragem. É uma música que se torna essencialmente instrumental do meio pro fim, e termina diminuindo a intensidade, até por voltar o ouvinte à sua confortável poltrona. Se ouvido o disco com atenção, alguns minutos ainda serão precisos para voltar totalmente à Terra.


    Artista: Massive Attack
    Álbum: 100th Window
    Ano: 2003
    Nacionalidade: UK
    Gravadora: Virgin Records
    Tracklist:

    01 - Future Proof
    02 - What Your Soul Sings
    03 - Everywhen
    04 - Special Cases
    05 - Butterfly Caught
    06 - A Prayer for England
    07 - Small Time Shot Away
    08 - Name Taken
    09 - Antistar

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    domingo, 4 de abril de 2010

    Portishead - Portishead [1997]


    Ok, estava devendo alguma coisa de Portishead pra esse blog. Confesso que é uma das bandas que mais gosto e sou extremamente suspeito pra falar dela. Então, vamos à enrolação básica. O Portis (para os íntimos) é uma banda britânica de uma coisa chamada trip-hop. In fact, o trip-hop surgiu na primeira metade da década de 90 em uma região da Inglaterra, perto da/na cidade de Bristol. Curiosamente, todos os nomes que fundaram a cena vêm de lá. O nome Portishead, aliás, é um distrito da cidade de Bristol. Os Portis, junto com o Massive Attack (outra banda que devo um post) e Tricky (que começou no Massive e depois seguiu carreira solo), ajudaram a fundar e a consolidar esse ritmo estranho, utilizando sintetizadores e baixa RPM. No Portishead, essas características foram ainda unidas à voz perfeita da vocal Beth Gibbons e dos arranjos de Geoff Barrow.

    Apesar de homônimo, este não é o primeiro álbum da banda, sendo este título do álbum Dummy, de 1994. O Dummy, com a música Glory Box, foi quem tornou o Portishead conhecido mundialmente. Agora, confissão de fã: a Glory Box é, com certeza, a música mais conhecida deles, mas nem de longe é a melhor. Portanto, desconfie se você encontrar algum "fã" da banda que diz que esta é a melhor música ever. Provavelmente, ele/ela só ouça Portishead como "música ambiente" para sexo ou algo do tipo. Sim, Portishead é bastante associada ao sexo, mas limitar a bnda a estes momentos é desperdício.


    Considero este o álbum de estúdio mais perfeito da banda, perdendo apenas o posto de melhor álbum pra o Roseland Ballroom, o álbum ao vivo que eles gravaram em 1998, que eu postarei depois. O mais incrível deste álbum é que até as músicas comerciais são muito boas. É o caso de All Mine, a faixa que abre a bolacha. Apesar de que após você ouvir o disco todo, você percebe que esta é apenas uma espécie de introdução ao mundo sombrio e intimista do trio britânico. Cowboys já te leva a um novo nível, com a voz cheia de efeitos e uma bateria cadenciada.

    Porém, considero que é em Elysium que a coisa começa a ficar divertida. Enquanto ela (e você!) se arrasta lamuriosamente pelo refrão "But you can't deny how I feel / And you can't decide for me", você se vê envolvido em uma cortina de fumaça, onde tudo começa a girar. Apesar de Half Day Closing dar uma "trégua" momentânea à psicose, a música seguinte trás toda a magnitude que a banda pode criar. Humming é aquela música que te envolve, te aperta o coração, aquele arrepio que percorre todo o corpo desde o primeiro som (na verdade, se arrepiar é uma coisa constante quando se ouve Portishead). Não tem como negar toda a sensualidade e tesão que emanam dessa música. Tudo nessa música é perfeito, sufocantemente belo. Até o clip:


    Após o carrocel sensual de Humming, Mourning Air vem para lembrar que o mundo não é esse gozo sexual todo. Muito pelo contrário, é uma manhã cinza de sábado, em que o ar viciado carrega lembranças e medos. Já Only You, eu considero como uma música realmente romântica, a despeito de tudo. "It's only you who can turn my wooden heart" é uma declaração de amor legítima, em que até a atmosfera se mostra confessional.

    Over é outra daquelas músicas que te arrepiam desde o primeiro acorde. Ainda que simples, uma nota só, sua repetição, cadência e solidão harmônica fazem com que tudo pareça perdido, especialmente se você lembra o nome da música. Já Seven Months é uma aliviada para as próximas duas últimas músicas do disco. Ela sempre me lembra uma queixa, mas em tom de brincadeira. Undenied, por sua vez, é séria, soturna, e assim como Over e Humming, arrepia ao começo. Um piano acompanha a música e transforma tudo quase como um sonho...

    Ou pesadelo. É como a triste resignação de descobrir-se apaixonado, mas não poder ter a pessoa amada. Aquela necessidade de continuar, mesmo sem vontade. E você continua, até cair em Western Eyes, última música do disco, e última música da vida para aqueles com coração frágil para emoções. O piano de Undenied continua aqui, mas agora ele fere mais do que embala. Enquanto que na música anterior, ele tinha algo de romântico, aqui ele é fatal, como o badalar de um relógio, marcando o passar do tempo, aquele que tudo corrói. "Yes i'm breaking", cantado por aquela voz arrastada, enquanto você automaticamente pensa "I'm breaking too"...

    Para aqueles que têm alguma dúvida sobre baixar ou não este disco, só mais uma informação: na época, foi o único disco de 97 a dar testa no Ok Computer, do Radiohead.


    Artista: Portishead
    Álbum: Portishead
    Ano: 1997
    Nacionalidade: UK
    Gravadora: GO! Beats Records
    Tracklist:

    01 - All Mine
    02 - Cowboys
    03 - Elysium
    04 - Half Day Closing
    05 - Humming
    06 - Mourning Air
    07 - Only You
    08 - Over
    09 - Seven Months
    10 - Undenied
    11 - Western Eyes

    terça-feira, 23 de março de 2010

    Bob Dylan - Highway 61 Revisited


    Robert Allen Zimmerman. É esse moço da foto aí de cima. Também conhecido como Bob Dylan, é o responsável por influenciar 50 milhões de artistas do século passado (passado?), desde o nome da banda Rolling Stones até ter a primeira faixa desse disco aqui (que por sinal é a mesma que deu nome à banda do Mick Jagger) a escolhida como a melhor música de todos os tempos pela revista... Rolling Stones (ok, começo a duvidar da imparcialidade dessa escolha...)! Esse também é o disco de nº 0058 na lista dos 1001 discos para se ouvir antes de dormir.

    Considerando que não faz sentido nenhum falar do artista, falemos um pouco mais do álbum. Foi o primeiro disco do homem a ser gravado inteiramente com uma banda de rock. A perfeita "Ballad of a Thin Man" é escola de como um bom blues deve ser feito. Na verdade, difícil escolher uma música que não seja clássica neste disco. Uma coisa que é interessante no álbum é o fato de ser uma típica trilha sonora para rodovias (highway) em uma longa viagem, na década de 60. Consigo me imaginar com aqueles óculos, um conversível, o vento no rosto e o Dylan tocando sua gaita. Perfeito!

    Uma ótima definição pra esse disco eu encontrei aqui, no blog do Fabrício Pontin:

    "Segue a maluquice bíblica de Highway 61 revisited, que deve ter influenciado desde Neil Young até The Mars Volta, passando por White Stripes, PJ Harvey e Television. A última música, com seus 12 minutos, é Desolation Row, e tem dylanófilos discutindo o que significa a letra até hoje – ainda que provavelmente não signifique merda nenhuma .
    O album é indispensável para quem gosta de rock, e é mais importante que, bem, qualquer coisa que os Beatles tenham feito – embora, é claro, tenha vendido muito menos. Highway 61, junto com o Blonde on Blonde, é o ponto alto do rock na década de 60, e dá o tom para o que vem depois dele."

    Claro que depois posto o Blonde on Blonde pra vocês. Enquanto, aproveitem o Highway 61.




    Artista: Bob Dylan
    Álbum: Highway 61 Revisited
    Ano: 1965
    Nacionalidade: EUA
    Gravadora: Columbia Records
    Tracklist:

    01 - Like a Rolling Stone
    02 - Tombstone Blues
    03 - It Takes a Lot to Laugh, It Takes a Train to Cry
    04 - From a Buick 6
    05 - Ballad of a Thin Man
    06 - Queen Jane Approximately
    07 - Highway 61 Revisited
    08 - Just Like Tom Thumb's Blues
    09 - Desolation Row

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    sexta-feira, 19 de março de 2010

    iLiKETRAiNS - Elegies To Lessons Learnt


    Assim que baixei esse disco, logo nos primeiros acordes e nas primeiras palavras quase sussuradas do Dave Marti, falando que jogamos um jogo de paciência, sabia que este seria um disco para toda a vida. Aquele arrepio ao ouvir a sentença de que estamos todos condenados a cair (We All Fall Down), a simples constatação fática de que não há saída, o fim se aproxima e nós somos os culpados (Twenty-Five Sins) ou o sentimento de total falta de culpa que nos trás a magistral canção que fala do assassinato do primeiro-ministro britânico Spencer Perceval, são exemplos que não há mais o que fazer.

    Ainda que não saia do lugar comum das bandas deprês, o iLiKETRAiNS consegue elevar ao máximo aquilo que fazem estas bandas tão charmosas: o desespero e a tristeza. Não algo pessoal, indivíduo fechado e impotente em seu mundo, como o Radiohead, mas a infinita constatação do desespero em tudo, em todos. Ainda que sutil, tudo ganha um tom cinza. Tudo é terrívelmente arrastado para um furação, ainda que começe como uma simples brisa.

    Deixando uma ressalta para o belíssimo vídeo da música Spencer Perceval:



    Artista: iLiKETRAiNS
    Álbum: Elegies To Lessons Learnt
    Ano: 2007
    Nacionalidade: Inglaterra
    Gravadora: Beggars Banquet
    Tracklist:

    01 - We All Fall Down
    02 - Twenty-Five Sins
    03 - The Deception
    04 - The Voice of Reason
    05 - Death of an Idealist
    06 - Remnants of an Army
    07 - We Go Hunting
    08 - Come Over
    09 - Spencer Perceval
    10 - Epiphany
    11 - Death is the End

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