sábado, 16 de julho de 2011

Protest the Hero - Scurrilous

Bom, essa é a primeira "resenha" que eu faço de um disco mais pesado, portanto, perdoem as falhas já tidas como certas....

Conheci essas crianças há algum tempo, por conta do também ótimo disco Kezia, de 2005, e os meninos vêm melhorando a cada disco. A banda é canadense, surgiu em 99, mas os dois primeiros trabalhos são bem fraquinhos (pronto, falei!). A partir do Kezia as coisas começam a mudar e eles vêm evoluindo a olhos vistos, sendo esse Scurrilous o último trabalho dos "muleque". A banda é formada por Tim Millar na guitarra "base", Rody Walker nos vocais, Arif Mirabdolbaghi nos baixos, Moe Carlson na batera e Luke Hoskin na guitarra "solo" (da esquerda para a direita nesta foto abaixo).

Tô dizendo que essas pragas eram muleques quando gravaram o Kezia...

Esse disco foi lançado em 2011, e mostra um amadurecimento muito maior da banda. Os vocais são limpos, sem os guturais e rasgados do Fortress, e o instrumental é mais bonito que em Kezia. Sem dúvida, uma prova do amadurecimento deles nestes últimos 3 anos. A primeira música de trabalho é a C'est La Vie, primeira do disco, logo abaixo. O clip desta música mostra igualmente como a banda está mais madura, com assuntos mais sérios e sombrios (só ver o clip de Limb for Limb, do disco Fortress, pra entender a diferença). Os momentos sem vocais são preenchidos com guitarras muito bem trabalhadas e no local certo, sem querer uma atropelar a outra.

A bolacha começa com C'est la Vie (calma, a música não é em francês, mas até q eles podiam, já que são canadenses, sei lá), e já começa com um som bastante pesado e veloz. As paradinhas típicas do metalcore estão aqui presentes, mas não são quebradas com lá. O belo vocal do Rody aparece ao melhor estilo heavy metal nessa música, ele usa e abusa dos falsetes, com belas passagens com voz limpa. Claro que ela não fica o tempo todo a 170km/h, e os momentos mais lentos são muito belos também. Segue clip, logo abaixo:




A próxima, Hair Trigger, é uma música muito legalzinha. Ela começa com umas guitarrinhas progs, cai pra uma coisa mais speed, mas nunca mantêm o ritmo por muito tempo, ao contrário da C'est la Vie. Ela sempre tem umas caídas, sempre com uma guitarra fazendo uma escala pra cá, uma coisinha pra lá. Aliás, a letra me lembra uma história de amor, algo do tipo. Claro que do jeito meio bizarro deles ( 'Till I can breathe her / 'Till I can leave her). Ah, sim! É nessa música que a bela voz da Jadea Kelly aparece pela primeira vez nesse disco (ela participou do Kezia, e não lembro se do Fortress, segundo trabalho dos caras, tb). É muito bonitinho quando ela entra cantando "What about those rainy nights in London", e o finalzinho em que eles ficam apenas repetindo a palavra "cold" com um baixo lançando slaps violentos ao fundo mostra como a banda que era rotulada de metalcore soube crescer e absorver novos elementos ao seu som.


Tandem
Tandem é uma música estranha. À primeira vista ela me pareceu uma música de revolta, mas refletindo mais profundamente sobre ela, acho que ela é mais uma música sobre boas pessoas, sobre amizades e ajuda ao próximo, sobre como podemos ter nossos problemas e demônios, mas podemos seguir sendo "bons", ajudar quem precisa e ser a pessoa que vai atrás nas tandens da vida, equilibrando e dando força a quem precisa. Curto as diferentes formas que o Rody repete certas frases, mas de formas diferentes. E o final sempre me deixa arrepiado...

Moonlight deve ter sido feita em um quarto de hotel à beira de estrada, ou em vários hotéis de beira de estrada. Um provável clip dela poderia ser gravado todo dentro de um quarto e, pensando bem, é uma musiquinha bem comercial. Ou seria, se não fosse bem Protest the Hero. Uns solinhos, umas caidinhas q não são do gosto do mainstream. Perto do finalzinho, um contratempo bem interessante, guitarras escalando, é uma música feita pra ser chiclete.

Tapestry é a música mais ácida do disco. O vocal é quase todo rasgado, antes do fim do primeiro minuto há uns vocalizes bem interessantes seguindo a bateria, coisa semelhante ao feito em Bloodmeat, do segundo cd dos caras. Um solinho de guitarra acompanhado de um teclado ao fundo, mais escalas, tudo se encaixando muito bem.

Aqui cabe uma explicação: a maior música do disco é Tandem, de 5:15. Apesar das influências progs, eles não se perdem em solos intermináveis ou notas tão lentas que dá vontade de dormir. As escalas são constantes em todas as músicas (lógico, duas guitarras servem pra isso), mas não é algo que atropele o vocal, nem cubra o espaço para que a bateria ou o baixo tenham seu brilho. 

Aliás, é por este ponto que eu considero esse disco uma evolução sobre os outros dois. Enquanto no Kezia eles estão experimentando eles mesmos, vendo do que são feitos, mas ainda dentro de um estilo mais genérico, e em Fortress eles experimentam seu som, vendo até que ponto eles podem inovar, em Scurrilous, temos uma banda que define muito bem o que quer fazer, e faz com uma competência muito grande. Não temos a sensação de que uma escala foi colocada pra experimentar como ficaria, temos a impressão de que foi tudo bem pensado desde o começo.

Dunsel fala sobre amadurecimento, sobre ir corrompendo-se, perdendo certas coisas e mantendo outras durante a vida. Quebra totalmente a acidez da Tapestry, é uma música que não tem tantas variações, tirando o final. The Reign Of Unending Terror mantêm a acelerada que o final de Dunsel dá, mas a partir desse momento o disco começa a mostrar-se um mais do mesmo. Felizmente o disco todo tem aproximadamente 44 minutos, o que impede que o ouvinte se canse.


Termites, popularmente conhecidos como CUPINS!!!



Termites dá uma acordada pra quem tava se perdendo no ritmo do disco. As variações de ritmo que ela têm dão novo ar ao disco como um todo, diferente das duas últimas. Os vocais em coro ajudam e anima a cantar junto, é uma música no local certo dentro do disco. Depois de descobrir o significado do nome dessa música, imagino ela sendo tocada numa casa de madeira, sendo comida por cupins, à beira de um precipício. Tongue-Splitter é uma música neurótica, um lunático verborragiando num ponto de ônibus enquanto tem tiques nervosos, piscando o olho e virando o pescoço rapidamente, igual o Brad Pitt, na pele do Jeffrey Goines, o lunático do filme Os 12 Macacos.

Sex Tapes fecha o disco muito bem. Após se recuperar da monotonia que Dunsel e The Reign of Unending Terror, o disco segue com a mesma qualidade do começo, com os vocais de Rody ajudado por mais alguém que não consegui definir quem (acho que é a voz do Tim Millar, não sei mesmo). Mudanças de ritmos diferentes das outras músicas, instrumentos bem limpos e um finalzinho só com a banda em fade out dão ao Scurrilous um fim merecido, e uma vontade de ouvir de novo, imaginando onde esses caras vão parar.

Se depender da qualidade musical deles, eles vão muito mais longe do que já foram....

Artista: Protest the Hero
Álbum: Scurrilous
Ano: 2011
Nacionalidade: Canadá
Gravadora: Vagrant Records
Tracklist:
01 - C'est La Vie
02 - Hair-Trigger
03 - Tandem
04 - Moonlight
05 - Tapestry
06 - Dunsel
07 - The Reign Of Unending Terror
08 - Termites
09 - Tongue -Splitter
10 - Sex Tapes


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terça-feira, 8 de março de 2011

Giant Squid - The Ichthyologist

Ok, confesso que perdi muito tempo da pesquisa pra esse post só vendo vídeos de lulas gigantes - giant squids, em inglês. Mas passada a natural euforia masculina em ver monstros gigantes destruindo coisas, cheguei à banda...

Eis a Giant Squid...



.. quer dizer, essa é a Giant Squid!


A banda surgiu em 2002, na cidade de Sacramento, Califórnia. É formada por Aaron Gregory nos vocais e guitarra, Bryan Beeson no baixo, Jackie Perez Gratz no cello e nos vocais e o Scott Sutton na batera. Pessoal diz que é banda de post-rock, aqui chegam a chamar de doom. Não sei, e esse "não sei " nasce justamente pela dificuldade em definir uma banda como essa. O The Ichthyologist (O Ictiólogo, em pt-br. Ictiologia é o estudo dos peixes. Com peixes e lulas gigantes, o estúdio de gravação deve ser um aquário) é a terceira gravação do grupo, precedido pelo EP Monster in the Creek e pelo álbum Metridium Fields, e é o que eu mais gosto da banda.

A bolacha começa com a Panthalassa, cujo nome me remete à Índia. O começo dela pode até mesmo acompanhar o nome da música, talvez mostrando paragens indianas ou árabes, com a guitarra e o cello (??) acompanhando essa introdução das 1001 noites.Calma, como um peixe que se camufla, essa música mostra sua verdadeira face. Guitarras sujas, bateria com ataques constantes nos pratos, seguidos de uma marchinha e uma voz rouca e profética mostram pra que a banda veio. À mente, um desfile a lá 4 de julho numa cidade do velho oeste americano, com a banda tocando num palanque ou carro alegórico, arbustos rolando e poeira voando. Os metais do meio da música ajudam a ter essa visão. A propósito, adoro os vocais dessa música, especialmente os berros. Não que sejam belos ou difíceis, mas passam muito sentimento. Impagável o vocal da Jackie também no final da música, talvez uma cantora de cabaré soltando agudos no meio duma briga de bar...

Ps.: Descobri que Panthalassa é o nome do antigo oceano que cercava o super-continente pangéia, que era a reunião de todos os continentes, há 200 milhões de anos atrás. Ou seja, o oceano primordial, início dos demais oceanos... e do disco!

A esse ponto já seria bom um esclarecimento sobre esse disco: todas as músicas são grandes (a menor tem 4:17), portanto, mudanças de atmosfera são extremamente comuns...

La Brea Tar Pits, segunda música do álbum, é como um último dia de um condenado à morte. Não sei ao certo se a condenação é física ou se a morte será mental, alguém que vai afundando em sua loucura até morrer dentro de si mesmo. A voz é lamuriosa, o ritmo arrastado. Um condenado na cadeira da inquisição enquanto soldados marcham ao seu redor, tudo em preto em branco, luminárias balançam deixando tudo incerto e sombrio. Pastores ou padres andam de um lado para outro, enquanto o condenado apenas observa aquele espetáculo preparado só para ele. Nas partes mais lentas e sussurradas, é o próprio condenado quem sussurra, numa close de seu rosto não barbeado, suas últimas palavras. Quando os instrumentos tomam a cena, palavras não são necessárias, são os preparativos para a execução. Apenas um lamento insistente se faz presente. Ao final de tudo, o vento arrasta poeira, lamentos e talvez espíritos, enquanto o que parece uma cítara fecha no cinza do céu...

Sutterville é um cabaré nos anos 20. Piano e bebidas dividem o ar viciado de fumaça de cigarrro com cintas-liga e conspirações. A cantora anda com seu salto-alto por entre os presentes, sobe no palco, debruça-se sobre o piano. Sua voz, sexy e intimista na maior parte do tempo, mostra sinais de lamentos às vezes, talvez por ela mesma, talvez por todos os presentes. É uma música muito gostosa de se ouvir, apesar de não ser nenhum blues perfeito, dá pra quase sentir a pluma do vestido da cantora roçando nossa pele ou o a fumaça do cigarro impregnando nossas roupas.

Ok, confesso que minha visão sobre a próxima música, Dead Man Slough, é bastante estranha. Ela começa com vocais bem roucos, um vocal feminino bem suave, depois berros sofridos e profundos. Imagino um pistoleiro com cigarro na boca, andando por uma sala empoeirada, ao redor de uma cadeira onde está uma mulher amarrada, seu antigo amor. É como se fosse um diálogo onde ele conta a ela tudo o que sentiu por ela e como ela pisou no amor dele, enquanto ela tenta se desculpar. O final é como se fosse ele se justificando por tudo o que ia fazer com ela. Para aqueles que têm o estômago mais fraco, talvez um diálogo imaginado na cabeça de dois ex-amantes que se cruzam na rua, apenas pensamentos e faces.

Throwing a Donner Party at Sea poderia ser confundida com qualquer música do Queens of the Stone Age, com a exceção do cello sempre presente. Até mesmo o baixo, as paradas, viradas da bateria, tudo faz lembrar Queens (o que pra mim é uma coisa positiva). Claro que o vocal da banda deixa claro a marca do Giant Squid. O clip de In Bloomm vêm à cabeça quando ouço essa música, um provável clip dela poderia ser feito parecido com o famoso clip do Nirvana: takes com a banda comportada alternando com momentos de destruição de cenário e instrumento, ou até mesmo a banda tocando pedaços daquilo que eram instrumentos.

Sevengill começa com sons de navios, parecido com Wanderlust, da Bjork. Estranho, pq até agora havia associado a banda sempre a climas secos, áridos (talvez influência da foto do começo do post). Sevengill pode ser considerada uma baladinha, ritmo lento, voz rouca, cello acompanhando a tristeza. "My heart is crushed by the jaws of regret" (meu coração é esmagado pelas garras do arrependimento), como é gritado no meio da música, define bem ela como um todo...

Mormon Island é o tipo de música que eu gosto: sombria, algo como um Sigur Rós depressivo. O vocal é etéreo, algo como uma alucinação, enquanto o som faz você viajar num sonho ou um delírio causado pelo calor excessivo do verão. Flashs passam pelos olhos, o que podem ser imagens da infância sendo resgatadas ou a cortina da sala onde você está semi-desmaiado. Ao final, você se dá conta que as imagens formam algo peculiar, algo que você gosta muito e que faz sentir-se em casa. Talvez algum avô distante tocando banjo numa fazenda do interior dos Estados Unidos ou alguém chegando para te levantar do chão onde você está febril.

Blue Linckia (uma estrela do mar de cor azulada bem forte) me parece ser uma música de reabilitação. Como uma estrela do mar, o grupo canta "If you were to sever my arm I would grow one more" (se você fosse cortar meu braço eu iria crescer um novamente), mostrando que a despeito da vida, a vida continua, the show must go on (Queen). Ou o finalzinho de V de Vingança, onde V, depois de levar vários tiros, ainda se arrasta para quebrar o pescoço de seu inimigo. Mas diferente do V, essa música trata mais sobre reabilitação do que sobre vingança, pois não irei crescer meu braço novamente pra arrancar os seus, e sim pq faz parte de mim querer seguir, querer e poder me curar.

Olha que linda a Emerald Bay!

Emerald Bay, penúltima música do disco, talvez tenha sido composta pensando justamente nessa vista paradisíaca acima, quem sabe? Ao menos comigo, praias e mar estão mais associados à melancolia, contemplação, aquela sensação de ser grande como o próprio oceano. Essa música também me faz pensar assim, o ritmo seguindo o embalo das ondas, o sol no juízo deixando tudo mais lento e embaçado...




Rubicon Wall é a minha favorita do disco. Tanto que guardei o vídeo pra ela, apesar dela não ter nenhum clip, acima é apenas ela tocando com uma foto do disco. Essa é uma maldita música que sempre me arrepia quando ouço. Ela começa semelhante a uma confissão, talvez um pedido de desculpas. Raiva, tristezas e decepções vão se juntando a um medo sobre o futuro, sobre o incerto. Talvez uma conversa franca à beira da morte, violinos fúnebres, enterro no mar. Sim, as palavras do morto enquanto seus serviços funerários são feitos por alguém, enquanto o barco avança contra as ondas, levantando espumas...

O disco termina em algo parecido com uma valsa. Talvez pra mostrar que até a morte pode acabar em dança, no balanço do mar... ou de alguém deprimido que se balança procurando consolo...

Segue aqui o MySpace da banda, aqui a página no Facebook e aqui o perfil no Last.Fm.

Artista: Giant Squid

Álbum: The Ichthyologist
Ano: 2009
Nacionalidade: EUA
Gravadora: self-record/ Translation Loss Records
Tracklist:

01 - Panthalassa
02 - La Brea Tar Pits
03 - Sutterville
04 - Dead Man Slough
05 - Throwing a Donner Party at Sea
06 - Sevengill
07 - Mormon Island
08 - Blue Linckia
09 - Emerald Bay
10 - Rubicon Wall


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